quinta-feira, 15 de julho de 2010

Entendem a lua?


Ando surtando... O barulho me incomoda, a solidão me incomoda... a imprecisão me incomoda e a certeza então nem se fala. Os hormônios incharam meu cérebro, meus peitos e meu ventre. E em sangue tudo sai. Mas ninguém entende.

Ando surtando. Sem hormônios não tenho peito, ventre, nem cérebro... Nada me incomoda, nem faz diferença. Passam carros, pessoas, casas, vidas, amores... E nada com sangue sai. Cada vez mais ninguém entende.

Ando surtando. Com hormônios incharam meu cérebro, meus peitos e meu ventre. Tudo me machuca. O barulho, a solidão, a imprecisão e a certeza então nem se fala. E com choro tudo sai, mas o sangue fica. Nem eu entendo.

Consegui! Surtei. Com e sem hormônios eu incho desincho, amo e odeio. Sou a lua, sou nova, cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Mas nunca paro, cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Sempre no mesmo lugar e ninguém entende. Ninguém que eu conheça. Mas são poucos que entendem a lua. Os lobos rezam pra lua só quando ela está cheia. Os humanos me aturam só quando mínguo.

Não é fácil aceitar que as pessoas cresçam, e ficam cheias, iluminadas. É tão mais fácil conviver com elas minguando, pequenas e quase sumindo. Mas que não sumam! Quando elas somem é tão assustador, inesperado, louco. “Ela é louca some assim”. Sumo: assim. Se só convivem comigo minguada, não convivem comigo, só com uma parte minha, mínima, singela, casta. Não sou só isso ou aquilo nem sou tudo. Sou várias partes.

Sou fragmentos, ápices, declínios. Sou você, nós e eles. Sou acima de tudo eu. Sem esquecer dos seus ou dos meus. E mudo a maré de minha vida conforme cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Mas porque cobrar que me entendam se poucos compreendem a lua?

E quando fico no meu céu, o mundo parece tão pequeno e cheio de sentidos. De ondas que vão e voltam, que levam e trazem. Com marés altas, baixas, com ressaca e com vazante. A vida cíclica, contínua, começa, acontece e acaba, começa, acontece e... Faz tanto sentido na matéria, por que não nos homens?

Mas não cobro que me compreendam, são poucos que entendem a lua.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sinto


Sinto liso, liso lixa, liso cal

Sinto isso, aquilo e ali.

Só não sinto

O que queria sentir.

sábado, 10 de julho de 2010

Sonhos derramados


Dormi em seu livro e deixei meus sonhos se derramarem sobre ele. Agora não sei como fechar esta torneira. Onde vou, penso, passo, suspiro meus sonhos vão colorindo o caminho. Se volto aos lugares que já passei, que já deitei re-encontro cada sonho, cada cor... Agora estou no dilema quando vou andando não sei se ando sonhando ou se sonhei que estava andando. Não é muito original, tantas histórias infantis ou canções falam de vida e sonhos fundidos, não era muito original até acontecer comigo.


E essa válvula ficou aberta por tanto tempo. Se paro pra pensar não penso porque os pensamentos, também, andam fugindo de minha cabeça. Tenho que andar atrás de meus pensamentos e sonhos para vê-los. E olha só que ironia, sendo meus deveriam estar comigo. Mas estão nas avenidas, viadutos, quartos, colchões, coxas, rostos, mentes... Não, em mentes não. Eles nunca mais voltaram para as mentes desde que saíram. Não querem mais saber dessas maluquices da cabeça. Querem andar pela psicodelia do mundo real.


É verdade que meus sonhos andavam se desentendendo com os pensamentos, mas não era motivo para eles me confundirem dessa maneira. Se não bastasse, abriram portas para todos saíram, lembranças, pesadelos, planos, traumas, desejos, neuroses... O mundo anda caótico como minha mente, minha mente caótica como o mundo.


E se descobrem quem produziu todas aquelas cores subversivas, aqueles monstros negligentes, aquelas obsessões, superstições, aberrações???


E no meio de tantos ões eu dormi. Não!!! Eu dormi! Não podia ter dormido... Produzindo mais sonhos, mas eram sonhos tão bons, tão prazerosos, tão meus. Não ia ser nada mal vivê-los na vida cotidiana. Mas se eu os vivesse todos os dias, não seriam mais sonhos, ou pior se eu os vivesse na vida “real” não seriam mais meus. Se ao menos eu não tivesse dormido, se ao menos eu não tivesse lido aquele livro seu, se ao menos eu não tivesse dormido lendo o livro seu.


E nossas vidas se resumem em “ses” e “SES” gigantes começaram a andar pela rua. E SE eu não tivesse pensando em SES... Enquanto me afogava num mar de ses, parei de pensar em ses.


“Se”: uma coisa que queria ser, mas nunca foi.


Por que nos preocupamos tanto com “ses”? E o mar de “ses” foi ficando seco devido a um intenso sol de querer. Querer algo que aconteça. E como tudo que eu sonhasse ou desejasse ia escorrendo pela minha mente, comecei a me preencher de uma maravilhosa sensação de concretude. Não concretude pesada, mas uma sensação de realização.


Talvez não fosse tão mal assim meus sonhos vazando por ai, quando as coisas começavam a ficar pesadelo, depressão era só pensar numa saída positiva e lá estavam as cores, os seres bizarros, as sensações prazerosas.


Essa parece aquelas histórias que vão acabar com um “e foi quando eu acordei”, ou e “seu livro acabou” , realmente não é uma historia muito original e não merece um final muito original. Mas não foi isso que aconteceu, eu não acordei. Afinal eu não estava dormindo só estava convivendo com meus sonhos e pesadelos. O seu livro acabou sim, é claro, uma hora eu teria que acabar de lê-lo. Porém não foi ele quem causou tudo isso, só ajudou a abrir uma válvula.


Vejamos por esse lado, essa historia não tem fim. Sou apenas eu pensando incessantemente. Agora que meus pensamentos tomam forma, alguns viram textos.


E assim, sem fim segue essa historia até eu morrer. A dúvida que não me deixa é: ficarão meus sonhos, pensamentos, pesadelos, amores e desejos no mundo mesmo depois que eu for? Será esse nosso fim? Plantar sonhos no mundo? E nessa dúvida fui andando, sonhando, morrendo, nascendo e acordando...


*Imagem de Juan Miró