Ando surtando... O barulho me incomoda, a solidão me incomoda... a imprecisão me incomoda e a certeza então nem se fala. Os hormônios incharam meu cérebro, meus peitos e meu ventre. E em sangue tudo sai. Mas ninguém entende.
Ando surtando. Sem hormônios não tenho peito, ventre, nem cérebro... Nada me incomoda, nem faz diferença. Passam carros, pessoas, casas, vidas, amores... E nada com sangue sai. Cada vez mais ninguém entende.
Ando surtando. Com hormônios incharam meu cérebro, meus peitos e meu ventre. Tudo me machuca. O barulho, a solidão, a imprecisão e a certeza então nem se fala. E com choro tudo sai, mas o sangue fica. Nem eu entendo.
Consegui! Surtei. Com e sem hormônios eu incho desincho, amo e odeio. Sou a lua, sou nova, cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Mas nunca paro, cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Sempre no mesmo lugar e ninguém entende. Ninguém que eu conheça. Mas são poucos que entendem a lua. Os lobos rezam pra lua só quando ela está cheia. Os humanos me aturam só quando mínguo.
Não é fácil aceitar que as pessoas cresçam, e ficam cheias, iluminadas. É tão mais fácil conviver com elas minguando, pequenas e quase sumindo. Mas que não sumam! Quando elas somem é tão assustador, inesperado, louco. “Ela é louca some assim”. Sumo: assim. Se só convivem comigo minguada, não convivem comigo, só com uma parte minha, mínima, singela, casta. Não sou só isso ou aquilo nem sou tudo. Sou várias partes.
Sou fragmentos, ápices, declínios. Sou você, nós e eles. Sou acima de tudo eu. Sem esquecer dos seus ou dos meus. E mudo a maré de minha vida conforme cresço, fico cheia, mínguo e sumo. Mas porque cobrar que me entendam se poucos compreendem a lua?
E quando fico no meu céu, o mundo parece tão pequeno e cheio de sentidos. De ondas que vão e voltam, que levam e trazem. Com marés altas, baixas, com ressaca e com vazante. A vida cíclica, contínua, começa, acontece e acaba, começa, acontece e... Faz tanto sentido na matéria, por que não nos homens?
Mas não cobro que me compreendam, são poucos que entendem a lua.