quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Eternidade...


Não podemos definir tudo com a eternidade... Nunca mais, pra sempre, eu nunca, eu sempre, jamais... São palavras tão eternas, imaturas, irreais... Não somos seres eternos, não temos opiniões eternas. Sim, mudamos. É maduro mudar porque é inseguro mudar. Descobri que a maturidade é incerta e talvez seja por isso que o mundo adulto é tão caótico e belo. Porque é possível encontrar no centro do caos a paz, no auge da maturidade a criança.

Paro pra pensar em como a eternidade é um conceito inexistente em nossa realidade. Nada permanece como quando fomos gerados... Tudo se transforma: osso, músculo, tecido dos órgãos, sangue, idéias... Nada é eterno, tudo muda, evolui, transforma... Nada permanece... Então, por que essa obsessão da humanidade pelo eterno? Nunca, jamais, pra sempre, eterno... palavras presentes em nosso cotidiano e muitas vezes associadas à pronomes possessivos típicos do capitalismo: "Meu para sempre... Sua eternamente"... Essa auto-afirmação, possessividade, obsessão pelo eterno, não são características de insegurança?

Ficar eternamente vivo não seria cansativo? Querer ser eternamente lembrado não nos torna patéticos? Ficar eternamente ligado à alguém não é enjoativo?

Porque essa insegurança de desaparecer? Esse medo do FIM? Por que não podemos simplesmente aproveitar o agora? Sábios literários árcades que cultuavam o carpe diem...

Não deveríamos prezar os pequenos prazeres momentâneos proporcionados pela vida ao ficar vangloriando o futuro ou saudando nostalgicamente o passado? Refletindo sobre “Asas do Desejo” de Wim Wenders, fica ainda mais claro como passamos “batido” por coisas maravilhosas... Não percebemos o quão lindo é saber que verde é verde, ou prazeroso pode ser tomar um café quente no frio, sentir sabores, tatear coisas, abraçar alguém, sentir seu calor... Isso não é eterno, mas é sagrado.

Monogamia...


Fico pensando... Como casais se suportam? Acordam todos os dias e olham o mesmo rosto, veêm todos os dias as mesmas manias, mesmo corpo, mesmo ciúme, mesma história, mesma alma...
Isso é, ao mesmo tempo, irritante e lindo. Porque com o passar do tempo... O rosto não é mais o mesmo, nem a alma, nem o corpo, muito menos a história... Mas a matéria ainda é a mesma...
É possível não enjoar da matéria? O amor realmente transcende a matéria? Não seria muito novela, conto de fadas ou mera ilusão acreditar que um sentimento desprovido de razão supera uma realidade tátil? Ou mais ainda que um sentimento supere outro menos racional e mais primitivo que é o desejo?

Porque negar o desejo por outros fora do casamento seria tremenda hipocrisia, já que o sentir desejo é incontrolável. Não digo atacar a pessoa desejada, trair, trepar, seguir os instintos, caçar a carne... Isso seria sim primitivo de mais, superamos atitudes animalescas, mas não os sentimentos. Esses são inegáveis... Vemos alguém interessante, temos desejo, calor, hormônios, vontade, cheiro, corpo.

Será possível viver com a mesma pessoa sem se interessar por outras? Afinal o desejo carnal é inegável, mas controlável... Mas e o interesse? O Encanto? Aquela primeira impressão que temos quando conhecemos alguém legal, atraente... A falta de ar, a vontade de não sair de perto, o suspiro ao vê-lo, mãos frias, trêmulas e geladas, o medo de falar besteira... Todo esse encanto que pode ser mera fantasia, mas acontece... Ele pode ser superado? Sufocado? Mesmo quando vem atrelado ao desejo?

Ontem vi o filme “De Olhos bem Fechados” de Kubrick. O casamento não tem realmente um ar hipócrita? Uma segurança irreal de ambas as partes? Afinal não acontece a traição em vias de fato... Mas o desejo reprimido gera um delírio pior que sua concretização. Um ciúme da mente, da criação, de um espaço que uma pessoa nunca dominará da outra: a imaginação. Nossa mente é poderosa, gera dor, prazer, satisfação, tristeza, desespero, sem nada concreto, com um simples sonho, imagem, por simplesmente sentir desejo, por meramente não assumi-lo, vamos além criamos hipóteses absurdas, confabulamos, tramamos vinganças à imaginação do outro ou à nossa.

Penso em Simone de Beauvoir, fiquei encantada(ao assistir a peça “Viver sem tempos mortos” monólogo interpretado por Fernanda de Montenegro) com aquela mulher do começo do século XX que já enfrentava tabus que até hoje são amarras para a mulher, para o homem e para os relacionamentos em geral. É tão anormal assim uma mulher não querer casar e criar filhos? Uma menina preferir jogar bola a brincar de casinha? Desistir do sonho de infância de embalar uma boneca com cantigas de ninar e pensar em sua carreira, em seus desejos, curiosidades e não querer se prender a um só homem? E ao mesmo tempo, será que não havia algo sádico no relacionamento de Simone com Sartre? Suas “fiestas” eram saudáveis? Não havia algo doentio e mal resolvido? No final não estavam presos um ao outro?

Até que ponto podemos nos privar nos relacionamentos monogâmicos? Até que ponto podemos nos machucar nos relacionando com várias pessoas? Ou machucar alguém? Há espaço em nossa sociedade possessiva para o relacionamento aberto? O amor livre pode ser cultivado na sociedade capitalista? Nossos desejos superam nossas leis?

Por que o ser humano complica tanto? Se fôssemos todos macacos, deuses no Olimpo, diabinhos, ácaros ou até mesmo os ditos seres primitivos, se respeitássemos nossa natureza, é claro que dentro das vontades de cada um, não seria tudo mais fácil? Menos poético, talvez, porém mais prático.