segunda-feira, 22 de agosto de 2011

um pouco de nada


não durou muito
fiquei com sono
durmi a vida
e acordei
no sonho

(não durou muito...)

* imagem: obra de Salvador Dali

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A noite sem lua


Falta seu calor, falta seu abraço, seu carinho... Falta. E a luz da manhã chegou gélida, rompendo a penumbra noturna. E o escuro aconchegante foi destruído pela branquidão cega. Nossa vida parecia uma noite temendo o amanhecer. E depois de tantas noites sem amanhecer, não sabíamos que aquela noite sem lua era última em que nos amávamos.

As noites com lua nos assustavam. Sua luz reflexo do sol, apontava a força da manhã. Uma luz tímida na escuridão noturna, mostrava o fim do nós. Mas justamente na noite sem lua, na negritude plena, nos despedíamos sem saber. Naquela noite sem estrelas chovia uma chuva fina, como se o céu chorasse sem soluços para esconder sua tristeza. Não relampeava, não trovoava, não havia luz. Havia apenas uma vela no quarto, que desenhava nossos corpos com sombras na parede. Havia uma vela no quarto, pela primeira e última vez.

A iluminação do quarto se bastava com a luz aterrorizante do luar. Mas naquela noite sem lua... Havia uma vela no quarto. Anunciando um calor que não o nosso, um calor de fogo, um calor de sol, um calor frio e solitário, solar. Só no lar. Fique só com sua ausência, ensurdecedora, silenciosa, calorosamente fria. Fiquei só naquela claridade.

Engarrafei nossas noites para beber homeopaticamente, quando a claridade se torna assustadora tomo gotas de escuridão. Aquela branquidão fria, pontilhada de você, torna-se um pouco reconfortante. Nas noites claras de lua cheia faço um banquete de meu coração regado à nossas noites. E a cada nervo, a cada gota tento tampar a luz que jorra da janela. Mas a carne, o líquido, os outros só peneiram a luz. Nossa escuridão só existia em nossas noites, nas noites de lua.


*texto encontrado perdido e inacabado no meu computador, de muito tempo atrás em que temia a luz gélida.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Carpe Diem


Dizem os bucólicos “carpe diem”.

Mas o que é viver o momento? Se todo dia eu viver como o último, comeria pastel, beberia vodka, caipirinhas e vinhos. Brindaria com amigos, chocolate seria minha alimentação base. Mas o que é viver o momento? Cigarros e drogas lisérgicas, não trabalhar, não se preocupar, amar a quem quiser e desgostar sem fingir, saudar Baco toda noite, admirar a lua. Comer, beber e amar. Mas o que é aproveitar a vida? Enfartar com 20 anos, derrame, colesterol, tuberculose, sífilis, disritmia. Taque cárdia. Cafeína, cefaléia. Morfina, dependência. Descanso, dívidas. Vida, morte. Sim, Arnaldo Antunes! “O Pulso ainda pulsa e o corpo ainda é pouco.” Quero não me preocupar e vivo preocupada com isso. Aproveito o momento e acordo com ressaca moral. Moral minha? Moral social? Me fascino com meu medo, tenho medo do que me fascina. Eu quero estar bem, quero sempre mais, mas mais não me faz bem e menos também não faz. E nesse vai e vem de quem tem e não tem, eu aproveito diem, do meu jeito torto, e depois da tormenta o sossego, do sossego o tédio, do tédio a inquietaçãotormenta. Me acorda desse sonho maluco, mas me deixa dormir mais 5 minutos. Não deixa ter pesadelo e não deixa eu ficar sem medo.

Eu sou extrema.

E isso é: solução com problema.

terça-feira, 29 de março de 2011

18h- São Paulo


Trânsito Parado
Ônibus Lotado
Humano Suado
Ah! Queria que fosse
Feriado!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Voando Dali(qui)


Queria voar daqui

E chegar ali

Pra poder voar Dalí

E chegar aqui

Colorida, cheia de vida

Cheia de morte

Cheia da cheia

Da maré e do luar

Queria voar daqui

Dali e de outro lugar

E ver tudo de novo

Chegando...

E eu sempre partindo

Parindo um sonho

Respirando um vento

E movendo uma rosa...

Queria voar daqui

me ver aterrissar aqui,

enquanto daqui

Voava...