quinta-feira, 4 de março de 2010

Ritual Antropofágico



Devorei seus destroços no chão

Devorei minha alma em sua mão

Minha vida, minha sina, minha morte

A-LU-CI-NA


Devorei meus medos e sua canção

Devorei as caridades, os sorrisos e teu perdão

Devorei seus restos, sobras e excessos

Devorei o pior e o melhor de ti

De mim

Em mim


Devorei a casa, as lembranças, os sonhos

Devorei Devorarei Devoraria Devoraremos

Nosso canto antropofágico

Que transforma os restos podres em nova vida


Devoro por fim

O fim dessa canção.



(* Imagem de Tarsila do Amaral- Abaporu)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Reflexo


Vejo em você o reflexo do que há de pior em mim

Minhas carências,

Fraquezas...

Minha compulsividade.

Devoro você

Com esperança de deglutir uma parte minha

Que eu ainda não tenha digerido

Saboreio cada gota de sangue

Cada nervo, sua carne dura.

E quando te vejo ali,

Destroços no chão,

Vejo em você o que há de pior em mim

Canto da destruição


Venha lobo mau

Me devorar no chão de um banheiro sujo,

E deixe comigo

Seus braços, pernas, problemas


Venha lobo mau

Destrinchar minhas tripas,

Concretizar minha auto-destruição


Venha lobo mau criança

Que lhe dou colo

Lobo mau velho

Que eu lhe dou vida, minha.


Venha lobo mau

Me dilacerar no chão de um banheiro sujo

Do filho feto ao

Pai decrépito

Venham todos

Todos os maus

E me destruam

Destruam minha alma

Que meu corpo já não agüenta mais

Destruam meu corpo

Que minha alma já não existe mais.

(Doeu quando descobri que o lobo era eu).