Falta seu calor, falta seu abraço, seu carinho... Falta. E a luz da manhã chegou gélida, rompendo a penumbra noturna. E o escuro aconchegante foi destruído pela branquidão cega. Nossa vida parecia uma noite temendo o amanhecer. E depois de tantas noites sem amanhecer, não sabíamos que aquela noite sem lua era última em que nos amávamos.
As noites com lua nos assustavam. Sua luz reflexo do sol, apontava a força da manhã. Uma luz tímida na escuridão noturna, mostrava o fim do nós. Mas justamente na noite sem lua, na negritude plena, nos despedíamos sem saber. Naquela noite sem estrelas chovia uma chuva fina, como se o céu chorasse sem soluços para esconder sua tristeza. Não relampeava, não trovoava, não havia luz. Havia apenas uma vela no quarto, que desenhava nossos corpos com sombras na parede. Havia uma vela no quarto, pela primeira e última vez.
A iluminação do quarto se bastava com a luz aterrorizante do luar. Mas naquela noite sem lua... Havia uma vela no quarto. Anunciando um calor que não o nosso, um calor de fogo, um calor de sol, um calor frio e solitário, solar. Só no lar. Fique só com sua ausência, ensurdecedora, silenciosa, calorosamente fria. Fiquei só naquela claridade.
Engarrafei nossas noites para beber homeopaticamente, quando a claridade se torna assustadora tomo gotas de escuridão. Aquela branquidão fria, pontilhada de você, torna-se um pouco reconfortante. Nas noites claras de lua cheia faço um banquete de meu coração regado à nossas noites. E a cada nervo, a cada gota tento tampar a luz que jorra da janela. Mas a carne, o líquido, os outros só peneiram a luz. Nossa escuridão só existia em nossas noites, nas noites de lua.
*texto encontrado perdido e inacabado no meu computador, de muito tempo atrás em que temia a luz gélida.