sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Noite de Lua Cheia


Essa noite é noite de lua cheia

Vamos uivar à lua

Somos lobos

Temos sangue quente

Vamos beber vinho

Saldar Dionísio

Libertar nossas Bacantes interiores


Vamos saldar a Lua,

É noite de Lua cheia

O Dragão luta com São Jorge

A serpente na terra

E as fadas no ar


Vamos saldar a Lua

Evoé Baco!

Pois, todos temos direito de sonhar!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pessoas Normais


Queria , por um dia,

Ser como as pessoas normais

Sofrer por motivos normais

Vestir como pessoas normais

Comer como pessoas normais

Divertir-se como pessoas normais

Fazer uma faculdade normal

Ter um emprego de pessoas normais,

Falar como pessoas normais,

Andar como pessoas normais,

Olhar como pessoas normais,

Amar como pessoas normais,

Ter preocupações normais...

Mas o cotidiano normal

Me faz mal,

Mais do que o normal.


Não consigo não olhar a beleza do céu,

Não saborear a suavidade da chuva,

Não enxergar as crianças na rua,

Não sentir seu sorriso,

Nem seu olhar.

Não consigo ser normal

Não consigo nem tentar...

Se meu normal não te incomodar,

Nem sei porque tentar.

Ser normal num mundo tão anormal,

Que não consegue enxergar,

O quão normal é sonhar

Não há por que tentar...

Viver o real

Sem abstrato e sem complicar

Sem cor e sem amar.


Simples assim,

Normal de mais,

Pra ser normal pra mim.

(imagem do filme "Pink Floyd The Wall" de Alan Parker)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Violência



Mundo cãonibal


Devora-te


E não se alimenta


Essa máquina violenta


Carnificina que te arrebenta.


Suor, sangue salgado


Sustenta o Estado


Lágrimas, sangue filtrado


Sustenta a chacina



Não há nada aqui, menina!



Sangue, creolina.

sábado, 30 de outubro de 2010

Masoquismo das Palavras


Palavras afiadas

Perfuram meu pulmão

Seu grito estridente

Sangra meu tímpano e meu coração


E agora o que são?

Palavras...

Palavras...


Caindo do céu

Cacos pontiagudos

Me tiram a visão


E agora o que são?

Palavras...

Palavras...


Cicatrizes e Palavrão...

Amor,

Angústia

e Tesão.


* Imagem de Frida Kahlo "A Coluna Quebrada"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Presa no leito


Queria ser uma folha e ir junto com a ventania.

Para que ter pé se nos meus sonhos posso andar.

Pisando nas nuvens pensava em como voltar,

Andando nos pensamentos

Cérebro e lua

Vagavam na ventania,

Voavam na euforia.

Não pulava

Andava

Rastejava

Planava...

Chegava nas flores

Que cores!

Comia perfumes

Sonhava sabores

Dormia nos céus

Jantava estrelas...

Com pés,

Só vago pelas ruas,

Com sonhos,

Sensibilidade crua...


*Inspirado na frase"Pés, para que servem? se tenho asas para voar!!" de Frida Kahlo

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sonho



No meio da raiz tinha terra

No meio da terra tinha raiz

Como pode chegar a noite,
Se ainda nem conseguiram cobrir a Lua...

Atotó Obaluaye

E na cachoeira colhíamos
Lírios e metais pesados

Pra cobrir a Lua...
Pra chegar o dia...

E na raiz a terra
Na terra a raiz
Na Lua o dia
No dia o Lírio

!Dadá!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Voando pela vida

Vinha voando pela vida quando te vi sentado num bar. Um botequinho daqueles... De esquina, em que se toma rabo de galo e se joga truco... Um botequinho daqueles... De cadeiras e mesas de metal, em que se come pastel com molinho, que não se sabe o que tem dentro...

Vinha voando pela vida quando aterrissei. Cumprimentei seus amigos, tomei uma dose de vodka, amarga como teu olhar, embriagante como tua pele, densa como teu sorriso... E voltei a voar pela vida...

E pela vida comecei a freqüentar aquele bar... A vodka me lembrava nuvens, e as nuvens àquela vodka... Quando não estava voando pela vida, estava mergulhando no meu copo... Passei a ser aquelas pessoas que freqüentam botequinhos... Aquelas que fumam Marlboro e jogam buraco... Daquelas pessoas que freqüentam botequinhos... Que vêem a vida voando e passando, mas raramente voam nela.

E quando já estava quase completamente entregue à vida de pessoas de botequinhos, olhei para o céu e te vi voando pela vida... Planei pela rua, até chegar à praça de estrelas. Cumprimentei seus amigos e comi um pedaço de nuvem... Uma nuvem branca como seu sorriso, macia como sua pele e molhada como seu olhar... Comi mais um pedaço de nuvem, cumprimentei seus amigos, e sai voando pela vida...

Me tornei daquelas pessoas que voam pela vida, daquelas que raramente vêem a vida, mas voam por ela... Me tornei uma daquelas pessoas que voam pela vida e se alimentam de nuvem... E disso, fazem sua vida toda: dançam com as estrelas, voam e comem nuvem... E a nuvem me lembrava vodka, e a vodka me lembrava nuvens, e tudo numa gigante garrafa me lembrava você...

Estava voando pela vida quando te vi passar... E pensei que nuvens, vodka e estrelas são tão interessantes... Estava voando pela vida quando te vi passar chocho, sem graça, com seu sorriso amarelo, seus olhos frustrados e sua pele seca... Aterrissei, cumprimentei seus amigos e lhe dei um pedaço de nuvem e um trago de vodka.

Você virou daquelas pessoas que não são como aquelas pessoas... E saiu voando a procura de mim... E quando me encontrou, viu que via um espelho. Viu que via o que nunca queria ver. Éramos nós aquelas pessoas que não sabiam que eram as mesmas pessoas. Daquelas que voam pela vida e sentam nos botequinhos a procura de si mesmas.

E quando nos encontramos, me peguei no colo... E me pegar no colo me lembrou a céu sem nuvens e o calor do sol... E me pegar no colo foi como flutuar sobre a lua cheia. Uivamos e voltamos para as nuvens, estrelas, vodka, lua e sol. Com a certeza de quem éramos e sem medo de nos desencontramos, afinal, éramos o que éramos e só nós mudaríamos isso.