Vinha voando pela vida quando te vi sentado num bar. Um botequinho daqueles... De esquina, em que se toma rabo de galo e se joga truco... Um botequinho daqueles... De cadeiras e mesas de metal, em que se come pastel com molinho, que não se sabe o que tem dentro...
Vinha voando pela vida quando aterrissei. Cumprimentei seus amigos, tomei uma dose de vodka, amarga como teu olhar, embriagante como tua pele, densa como teu sorriso... E voltei a voar pela vida...
E pela vida comecei a freqüentar aquele bar... A vodka me lembrava nuvens, e as nuvens àquela vodka... Quando não estava voando pela vida, estava mergulhando no meu copo... Passei a ser aquelas pessoas que freqüentam botequinhos... Aquelas que fumam Marlboro e jogam buraco... Daquelas pessoas que freqüentam botequinhos... Que vêem a vida voando e passando, mas raramente voam nela.
E quando já estava quase completamente entregue à vida de pessoas de botequinhos, olhei para o céu e te vi voando pela vida... Planei pela rua, até chegar à praça de estrelas. Cumprimentei seus amigos e comi um pedaço de nuvem... Uma nuvem branca como seu sorriso, macia como sua pele e molhada como seu olhar... Comi mais um pedaço de nuvem, cumprimentei seus amigos, e sai voando pela vida...
Me tornei daquelas pessoas que voam pela vida, daquelas que raramente vêem a vida, mas voam por ela... Me tornei uma daquelas pessoas que voam pela vida e se alimentam de nuvem... E disso, fazem sua vida toda: dançam com as estrelas, voam e comem nuvem... E a nuvem me lembrava vodka, e a vodka me lembrava nuvens, e tudo numa gigante garrafa me lembrava você...
Estava voando pela vida quando te vi passar... E pensei que nuvens, vodka e estrelas são tão interessantes... Estava voando pela vida quando te vi passar chocho, sem graça, com seu sorriso amarelo, seus olhos frustrados e sua pele seca... Aterrissei, cumprimentei seus amigos e lhe dei um pedaço de nuvem e um trago de vodka.
Você virou daquelas pessoas que não são como aquelas pessoas... E saiu voando a procura de mim... E quando me encontrou, viu que via um espelho. Viu que via o que nunca queria ver. Éramos nós aquelas pessoas que não sabiam que eram as mesmas pessoas. Daquelas que voam pela vida e sentam nos botequinhos a procura de si mesmas.
E quando nos encontramos, me peguei no colo... E me pegar no colo me lembrou a céu sem nuvens e o calor do sol... E me pegar no colo foi como flutuar sobre a lua cheia. Uivamos e voltamos para as nuvens, estrelas, vodka, lua e sol. Com a certeza de quem éramos e sem medo de nos desencontramos, afinal, éramos o que éramos e só nós mudaríamos isso.
Olha só, uma prosa. Bem legal! Pareceu uma evolução literária. beijo
ResponderExcluirAdorei, mary! De verdade, parabéns!
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